25 outubro 2012

oralidade,leitura e escrita


Oralidade, leitura e escrita como formas de aprendizagem

A oralidade, a leitura e a escrita estão presentes em nosso cotidiano de forma articulada. Uma contribui para o desenvolvimento da outra. Diante disso uma das principais tarefas da escola seria fazer com que todos os educandos tenham o conhecimento e domínio das múltiplas funções da linguagem, onde esta possui diferentes manifestações e tem por objetivo a ação da comunicação entre as pessoas.
De acordo com DIAS (2001, p. 25) nossa tarefa, como educadores, seria abordar os mais variados tipos de textos em sala de aula, analisando as semelhanças e diferenças, a estrutura textual de cada um, o vocabulário utilizado, buscando incentivar a leitura, a interpretação e a produção pelos próprios alunos dos mais variados portadores de textos existentes e utilizados em nossa sociedade.
A professora que observamos aderiu ao PAIC (Programa Alfabetização na Idade Certa). Seu trabalho baseia-se em uma avaliação diagnóstica, onde registra em qual nível de leitura e escrita as crianças se encontram, para que, a partir das dificuldades apresentadas, possa planejar suas intervenções.
Para estabelecer uma boa relação entre as crianças a professora promove atividades que contribuem para que haja uma boa adaptação das crianças ao ambiente escolar. Procura sempre planejar uma semana bem acolhedora e divertida trazendo, por exemplo, brincadeiras que gerem interação e convívio em grupo.
Trabalha a oralidade, a leitura e a escrita de forma articulada. Fixa cartazes nas paredes para que as crianças acompanhem o que for sendo vivenciado. Ler palavras para que elas repitam e depois escrevam, seja coletivamente ou individualmente. Confecciona para os alunos fichas com seus respectivos nomes, em letra cursiva e em letra bastão, para proporcionar o contato deles com as letras de seus nomes e da de seus colegas. Com estas fichas são realizadas atividades como: identificar a ficha que contem o nome do colega, contar o numero de letras destacando a letra inicial e a final.
Estimula a consciência fonológica cantando músicas que as crianças conhecem trocando as palavras por sons de sílabas. Por exemplo: na música “Atirei o pau no gato...” cantam PA, PA, PA... (de acordo com a melodia); depois com outras sílabas, sucessivamente.
A oralidade é trabalhada, em especial, através da construção de histórias, leituras dramatizadas, leituras compartilhadas, teatrinho de fantoches, onde, em seguida, as crianças são convidadas a recontarem e a escreverem as histórias de seus jeitos. Outra atividade consiste em pedir para as crianças elaborem uma lista de personagens com os quais se identificam na história.
Observamos que é uma atividade onde todos se envolvem, alguns querem recontar, outros, desenhar e escrever.
Uma conseqüência visível desta atividade é que todos os dias acontecem empréstimos de livros paradidáticos que são levados para casa por interesse das crianças. Esta atividade acaba estimulando até mesmo os pais a se envolverem na aprendizagem dos filhos aproximando-os afetivamente.
Para a professora, quando os pais se envolvem no desenvolvimento das crianças é perceptível. Ela procura conversar com os mesmos diariamente e principalmente nas reuniões em sala de aula.
Procura sempre pedir para que os pais leiam com as crianças diariamente, sejam rótulos de embalagens e propagandas, sejam anúncios e os livros que as crianças levam para casa.
“Não se trata, simplesmente, de se ensinar a criança a falar, mas de desenvolver sua oralidade e saber lidar com ela nas mais diversas situações”. (DIAS, 2001, p.36)
A docente trabalha a leitura de forma prazerosa, lúdica e formadora de leitores. Em um trabalho conjunto com a escola, incentiva a leitura através do empréstimo de livros pela biblioteca e mini-biblioteca nas salas de aula da educação infantil e primeiro ano. Existe uma atividade denominada Ciranda de Leitura, onde os livros são divididos por gêneros, cada sala fica com o que achar ideal se trabalhar. Durante a semana todo processo de leitura e produção textual é feito juntamente com a professora.
A escola da grande importância a literatura infantil, pois, para a mesma, o prazer de ler tem que ser cultuado desde a infância.
Através da literatura as crianças imaginam, conhecem, crescem, formando senso crítico, incentivando a possibilidade de termos futuros leitores e grandes escritores.
A professora acredita na contribuição da leitura para a alfabetização e o letramento, pois, segundo ela, quando se incentiva a criança a ler, na contação, por exemplo, ela já quer recontar a história, quer escrever mesmo sendo pré-silábica. A partir daí vai tendo vontade e o prazer de aprender, de escrever, de falar aos colegas.
Tudo isso não deve ser cultivado só na escola, mas também pela família e todos os segmentos político-governamentais. Deve-se ter em mente que são de fundamental importância para o desenvolvimento de um país que “clama” por uma educação de qualidade.
Observamos que a entrevistada procura contemplar as etapas e os níveis de compreensão leitora. Percebe-se que a criança já chega à escola com o conhecimento sobre os objetos e suas funções, procurando fazer relações entre a palavra falada com a imagem do objeto.
A linguagem das crianças vai se tornando cada vez mais próxima da dos adultos, através da imitação e comparação. Trabalha para que as crianças alcancem de forma significativa os outros níveis da compreensão leitora, que consistem na compreensão do material utilizado no meio social e finalmente escrever, saber como se representa a fala no papel.
Vimos que o PAIC, em relação à escrita, trabalha fundamentando-se no estudo da psicogênese da língua escrita, desenvolvido por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky. Nesta teoria destaca-se que as crianças formulam uma série de idéias próprias sobre a escrita alfabética enquanto estão aprendendo a ler e a escrever. Reinventam e atribuem aos símbolos da escrita significados bastante distintos dos que lhes transmitem os adultos que as alfabetizam.
Estas hipóteses especificas foram classificadas por Emilia Ferreiro e Ana Teberosky em quatro níveis:
No nível pré-silábico as crianças apresentam hipóteses bastante elementares sobre a escrita. Possuem dificuldades em diferenciar letras e números. A escrita é vista como um meio de se nomear as coisas. Tendem a acreditar que se escreve guardando as características do objeto a ser escrito.
No silábico a quantidade de letras a serem grafadas corresponde a quantidade de segmentos silábicos pronunciados. Podem se preocupar apenas com o aspecto quantitativo, marcando uma letra qualquer para representar cada sílaba da palavra.  Quando começam a utilizar, na escrita da sílaba das palavras, letras que possuem uma correspondência com os sons representados temos a fase silábica quantitativa.
A fase silábico-alfabética caracteriza-se pelas hipóteses muito próximas da escrita alfabética. Aqui as crianças já conseguem fazer uma relação entre grafemas e fonemas na maioria das palavras que escrevem.
Finalmente, no nível alfabético, o aluno começa a compreender o como a escrita nota a pauta sonora, ou seja, ela já é capaz de fazer a relação entre grafemas e fonemas, embora ainda possua problemas de transcrição da fala e cometa erros ortográficos.
Nesta abordagem consideramos fundamental que os professores construam um método de alfabetização que no planejamento das atividades esteja atento para a heterogeneidade do grupo, oferecendo atividades diferenciadas para alunos que apresentam hipóteses de escritas diferentes, considerando que as respostas dos alunos nas atividades em sala são distintas, e nesse caso, o confronto entre as diferentes respostas é interessante.
Em nossa observação podemos destacar algumas atividades que nos chamaram atenção. A professora busca escrever a agenda perguntando as crianças com que letra elas acham que se escreve determinada palavra; também trabalha com ditados de palavras (as crianças escrevem do jeito que sabem), visando assim, sabem se elas identificam as letras do alfabeto e se sabem grafá-las.
Os alunos também são solicitados a escreverem os nomes dos colegas da sala e o deles próprios para que assim se possa avaliar se conseguem fazer esta atividade sozinhos, assim, a escrita realizada pelas crianças servirá para identificar em qual nível psicogenético (relatado anteriormente) elas se encontram.
O professor deverá, em fim, estabelecer um trabalho que possibilite aos alunos desenvolverem suas habilidades e se tornarem leitores e escritores autônomos. Dando importância à linguagem pela necessidade humana de comunicar-se, decodificar o mundo, a sua realidade, para conhecê-lo e transformá-lo resignificando-os.
“A linguagem tem como objetivo principal a comunicação sendo socialmente construída e transmitida culturalmente. Portanto, o sentido da palavra instaura-se no contexto, aparece no diálogo e altera-se historicamente produzindo formas lingüísticas e atos sociais. A transmissão racional de experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala humana, oriunda da necessidade de intercambio durante o trabalho.” (VYGOTSKY, 1998. p. 07)
Alfabetização: novos olhares e novas perspectivas.
O trabalho com a linguagem se constitui em um dos eixos básicos no processo de alfabetização, dado a sua importância para a formação do sujeito, para a interação com outras pessoas, na orientação das ações das crianças, na construção de muitos conhecimentos e no desenvolvimento psicomotor e afetivo.
Compreendemos que o domínio da linguagem surge do seu uso em variadas circunstâncias, nas quais as crianças podem perceber a função social que ela exerce e por meio destas aquisições desenvolverem diferentes capacidades. Desse modo, a aprendizagem da linguagem oral e escrita é um elemento essencial para que ampliem suas possibilidades de inserção e participação em práticas sociais diversas.
As palavras só tem sentido em enunciados e textos que significam e são significados por situações. Neste contexto, a linguagem não é apenas o vocabulário, lista de palavras e sentenças, é por meio do diálogo que a comunicação acontece. São os sujeitos em interações singulares que atribuem sentidos únicos as falas. Assim sendo, a alfabetização não deve ser entendida como um desenvolvimento de capacidades relacionadas à percepção, memorização e treino de habilidades sensório-motoras e sim como um processo no qual as crianças precisam resolver problemas de natureza lógica até chegarem a compreender de que forma a escrita em português representa a linguagem e assim poderem ler e escrever com autonomia.
Cabe ao processo de alfabetização ajudar o discente a se constituir como pessoa, passando assim, a conhecer-se. Um importante caminho a ser seguido é a exploração dos vários tipos de textos de forma prazerosa, pondo em evidência a prática de despertar o interesse e a atenção dos discentes, desenvolvendo a imaginação, a expressão das idéias e o prazer pela leitura e escrita. Oportunizando situações nas quais as crianças possam interagir em seu processo de construção do conhecimento, possibilitando o seu desenvolvimento e aprendizado de forma significativa, direcionando um saudável diálogo entre a criança e o livro.
A grandiosidade do processo de alfabetizar não pode ser somente compreendida como uma forma de ensinar, mas de aprender e evoluir, permitindo assim, uma leitura de interpretações do mundo e a compreensão daquilo que se lê. Nesse sentido a alfabetização tem um importante papel, o de conduzir as crianças à aquisição da oralidade, da leitura e da escrita com fruição, isto é, que se sinta o prazer ao estar em sala de aula.
Alfabetizar é a arte da criatividade que representa o mundo através da palavra, fundindo os sonhos e a realidade da vida prática, transformando-a em um processo de continuo aprendizado no convívio escolar, formando leitores que tenham um envolvimento integral com aquilo que lêem, para que a cada leitura adquiram mais profundidade e intimidade com o mundo, fazendo perguntas e buscando respostas para produzir um continuo aprendizado, desenvolvendo a reflexão e um espírito critico.
“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nos sabemos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Paulo Freire
Como educadores devemos proporcionar aos discentes o prazer e gosto pela leitura, valorizando suas experiências de vida através de atividades nas quais eles sejam participantes ativos na construção do seu processo de aprendizagem. Passando a reconhecerem-se como sujeitos do conhecimento e poderem expressar suas opiniões sobre os temas abordados em sala.
Nesta nova concepção devemos estabelecer uma relação dialógica, onde educador e educando vivenciem experiências de trocas de conhecimento, para que possa haver um levantamento daquilo que os educandos já trazem do mundo e dessa forma elaborar estratégias de aprendizagem para se ampliar os conhecimentos.
Considerações Finais
Embasadas nestas reflexões consideramos relevante que o sucesso do processo de alfabetização se dê através do posicionamento do professor em sensibilizar o aluno a encontrar o caminho e o prazer pela descoberta de falar, de ler e escrever, utilizando-as para desenvolver a capacidade de pensar e crescer, proporcionando atividades significativas como: trabalhos em grupos, debates, contação de histórias, dramatização, considerando o nível de desenvolvimento cognitivo do aluno.
Sendo assim um sujeito atuante, que sente liberdade, prazer e gosto em ser alfabetizado, sentindo-se valorizado ao participar desse processo.
Segundo Paulo Freire “A educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela pouco a sociedade muda.” Percebemos que a sociedade moderna nos bombardeia com uma série de informações, na maioria das vezes sem significados, fazendo com que essa violência simbólica nos torne individualistas, consumistas e meros reprodutores do sistema, ou seja, alienados, impossibilitando nossa reflexão sobre as relações e problemas sociais, sobre a nossa práxis pedagógica.
Devemos então quebrar os grilhões que nos aprisionam a uma prática mecanicista de ensino, onde os alunos ainda são vistos como meros armazenadores de “determinados” conhecimentos.  Devemos sair do discurso e buscar uma práxis para formarmos não apenas leitores de textos, mas leitores de mundo e agentes transformadores da realidade.
Devemos trabalhar a oralidade, a leitura e a escrita como base para alfabetizar, proporcionando ao educando a oportunidade se apaixonar. Sim! E porque não se apaixonar pelas letras? Pois a finalidade da educação é formar apaixonados pela vida, pelo conhecimento, pelo outro, para tornar o ambiente em que vivemos mais humano e significativo, comprometido consigo e com a sociedade.

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